O Ritual do Rito Francês atualmente utilizado pela maioria das Lojas do Grande Oriente de França (GODF) é comumente chamado de “Rito Groussier”. É justo. Republicano ardente levado ao combate secular e social, Arthur Groussier havia entendido, ainda antes da Primeira Guerra Mundial, que a vulgata positivista e cientificista havia tido o seu dia e que era necessário dar à Maçonaria do Grande Oriente de França uma espiritualidade renovada. Mas esta obra, que pretendia que fosse coletiva, só ficaria concluída em 1955.

 

 

Fig. 1 - Arthur Groussier[1]

Iniciado em 1885, com 22 anos de idade, e Maçom ativo até à sua morte em 1957, Arthur Groussier encarna, em 72 anos de profícua Maçonaria, várias das valentes gerações de Irmãos do Grande Oriente de França que se envolveram fervorosamente na luta republicana. Ele representa também, nesta longevidade, um longo e rico itinerário, a integração de abordagens que, marcadas no início por uma concepção muito exigente de justiça social, evoluíram sem renunciar a toda uma série de considerações filosóficas e morais.

Mas o que talvez tenhamos tendência a ignorar quando pensamos nele é que, também em termos rituais, Arthur Groussier foi uma ponte. De fato, ele resumiu a maior parte da História do Rito Francês, que praticou em suas evoluções ao longo de várias décadas. Acima de tudo, ele é a força motriz da grande mudança na forma como o Rito é visto no âmabito do GODF.  


Como iniciador e "parteiro"[2]  da  regeneração  do  Rito  em  uma versãoque conseguiu ser ao mesmo tempo nova e tradicional antes da guerra e, após, como guardião de sua existência e continuidade.

 

Fig. 2 - Fac-símile de parte da caderneta com os registros dos Graus obtidos por Groussier porquanto membro da Loja "L'Émancipation".



Arthur Groussier foi iniciado na “Loge L'Émancipation” segundo o Ritual de 1858 (conhecido como “Ritual Murat”) então em uso. Este último não estava muito longe da versão adotada no Século XVIII pelo Grande Oriente de França em relação ao que fora impresso em 1801 sob o título de “Régulateur du Maçon”, uma versão que era substancialmente fiel às práticas originais da instituição.

Intocadas pelo “
Ritual Murat” de 1858, as fórmulas, sequências e gestos do Rito Francês original foram seriamente alteradas, ou mesmo abolidas, em 1887, 1907 e 1922. No entanto, a resistência de muitas lojas a estas alterações foi perceptível.
 

Mas este “Ritual de Murat” pesou o discurso de forma moralizante e introduziu o espartilho de uma orientação deísta, notadamente nas suas referências às duas obrigações dogmáticas relativas à crença em Deus e na imortalidade da alma, introduzidas em 1849, ao mesmo tempo que introduziu a tríplice divisa:  “Liberté  –  Égalité  –  Fraternité”.  Pelo menos não toca na estrutura fundamental do Ritual, composta por fórmulas, sequências e gestos característicos. Aquelas mesmas que, posteriormente, serão suprimidas ou seriamente alteradas.[3]

Fig. 3 - Lucien Murat[4]

 

Fig. 4 - Louis Amiable[5]

A primeira mudança fundamental no Rito foi feita em 1887. Com essa versão, chamada de “Ritual Amiable”, em homenagem ao Irmão Louis Amiable, que a promoveu, foi dado um passo decisivo.

Longe de se contentar em eliminar as invocações e os comentários relacionados ao Grande Arquiteto do Universo (GADU),  de  acordo  com  a  decisão do Convento de 1877, o Irmão Amiable, 
sob a influência da corrente positivista majoritária de então, suprimiu um grande número de termos e de aspectos alegóricos do Rito e, de modo geral, tudo o que pudesse ter uma ressonância simbólica, evocar uma questão metafísica ou simplesmente envolver a emoção e o corpo. O objetivo era excluir “práticas supersticiosas". Ao mesmo tempo, assistimos à inserção de comentários insípidos.

 

Segundo e terceiro estágios: apesar de algumas hesitações e comentários relativos, por exemplo, ao Grau de Mestre, com uma nova versão em 1907 (o “Ritual Blatin”), e mais ainda com a versão de 1922, desaparecerem com a maioria das últimas fórmulas significativas e os poucos remanescentes de uma teatralidade que, no entanto, é essencial para compreensão do cerimonial maçônico.

Na mesma linha, o Ritual de 1922 reflete o desejo de sufocar a própria ideia de um Ritual como hoje o concebemos. Os Trabalhos estão praticamente abertos ao “golpe de um malhete”, à custa da leitura de uma citação tranquilizadora e da execução de uma bateria. Não se tratava de verificar nem mesmo a cobertura do Templo, a regularidade dos Irmãos, a idade ou o tempo. Quanto à recepção, ela se reduziu a um mínimo de gestos e à leitura de chavões decorativos. Os elementos em que se sustentam e se baseiam a vida da Loja são distorcidos.

Fig. 5 - Jean -Baptiste Antoine Blatin[6]

  

A tendência do século XIX de despojar o Ritual de suas "práticas supersticiosas" foi revertida depois. Seria a onipresença da morte na mente das pessoas? Elas estavam cansadas de um secularismo que deixava pouco espaço para a espiritualidade? Groussier entendeu a necessidade da reversão e participou dela.

A degradação era tamanha que alguns Irmãos e Oficinas se sentiam tentados a romper com os regulamentos maçônicos mais recentes. As Sessões estavam cada vez mais sendo substituídas por “reuniões de Comitês”, que não exigiam o uso de paramentos. Como resultado, as iniciações e os “aumentos de salário” eram realizados de forma rápida e coletivamente (com várias Lojas), ao confinamento de vários profanos nos “Gabinetes de Reflexão"[7], o avental e as luvas foram abandonados em favor de tão somente um cordão, e havia cada vez mais violações dos procedimentos e métodos de exame para os candidatos.

Essa deterioração, que refletia a tentação, da parte de um segmento do GODF, de transformar a Maçonaria em mera associação de grupos de reflexão, encontrou resistência. No final da década de 1920, essa resistência se tornou forte. Vários fatores pesaram e levaram a uma reversão radical dessa tendência. Arthur Groussier foi rápido em entender a necessidade. Ele foi o precursor; inicia a reflexão, depois promoveu e tornou irreversível a nova formulação ritualística que estava surgindo.

Como esse desenvolvimento pode ser explicado? Muitas Lojas mantiveram no todo ou em parte as antigas práticas. O comentário incluído no Ritual de 1907 reconhece implicitamente esse fato. Pouco tempo depois, o próprio GODF tentou estabelecer limites para um processo que corria o risco de transformar as Lojas em órgãos seculares. O período da luta republicana, que era considerado prioritário, já havia passado; estávamos no período pós 1914-1918. Após o infeliz episódio do “Cartel des Gauches[8] em 1924, cada vez mais Lojas estavam voltando a se concentrar em atividades mais especificamente maçônicas e procurando dar mais solenidade às suas cerimônias. Para evitar confusão com a política e impedir que brigas dessa natureza entrassem no templo, Arthur Groussier, cujo pensamento pessoal havia começado a evoluir antes da guerra, tomou várias posições.

O desejo já de longa data da Grande Loja da França de tornar o Rito Escocês Antigo Aceito (REAA) em um Ritual mais simbolista e de promover o "escocismo" também desempenhou um papel nesta consciência do risco de enfraquecimento inerente à perda da substância ritual. Muitos Irmãos têm dupla afiliação e o GODF não ignora que a Obediência Escocesa está crescendo rapidamente e ganhando influência internacional.

O Supremo Conselho da REAA do Grande Oriente, que administra (e monopoliza) os Altos Graus e o Grande Colégio de Ritos, está cada vez mais sensível ao surgimento de temas mais iniciáticos, amplamente divulgados por revistas maçônicas como “L'Acacia” desde o início do século, e depois pela “Le Symbolisme” ou pela “La Chaîne d'Union”. Esse crescente interesse por temas maçônicos simbolistas, esotéricos ou filosóficos também deve ser visto em relação à reativação dos Ritos Retificado e Egípcio, seja de dentro do GODF (no caso da RER) ou à sua margem, com a participação de Irmãos em vários sistemas especulativos fora do seu domínio.

Grão-Mestre praticamente de 1924 a 1940, e membro do Grande Colégio de Ritos, Groussier concordou que, diante dos objetivos e marcos dos ingleses, os mitos e sinais universais comuns à Maçonaria mundial precisavam ser revividos.

Na verdade, a vulgata positivista e cientificista envelheceu de forma grave e rapidamente após a Primeira Guerra Mundial. Atualmente ela é vista como estreita e simplista. Nesse contexto, Arthur Groussier, que se tornou, quase sem interrupção, Grão-Mestre do Grande Oriente de 1924 a 1940, e que também foi membro do Grande Colégio de Ritos a partir de 1926, tornou-se cada vez mais consciente da dimensão ritual dos problemas. Sob sua diligente liderança, o GODF, que se encontrava em uma situação difícil no cenário internacional desde 1877, ajudou a criar a “Association Maçonnique Internationale - AMI” em 1921, ele a presidiu de 1927 a 1930 e manteve uma posição de destaque. Para o Grande Oriente da França, era uma questão de recuperar a influência e redescobrir o caminho para a unidade maçônica. Durante os primeiros anos, a AMI conseguiu consolidar sua posição e se expandir um pouco em direção à América Latina e aos Estados Unidos. Infelizmente, a situação logo se deteriorou. A ascensão do totalitarismo na Europa acabou com a Ordem em vários países importantes.

Ao mesmo tempo, uma contraofensiva da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI), que promulgou seus oito princípios básicos de reconhecimento[9] em 1929, banindo todas as relações para com a Maçonaria Liberal, levou esta última a refletir sobre as origens e os fundamentos da Ordem e a tentar apresentar argumentos sólidos sobre questões relacionadas à regularidade e à noção do Grande Arquiteto do Universo. Arthur Groussier, que foi muito ativo por meio de suas conferências e artigos (incluindo, em 1938, um relatório sobre “Recherche des possibilités et des moyens de rapprochement entreles diverses puissances maçonniques du monde[10], procurou mover esse problema do reino da proibição para o da "liberdade de pensamento".

Nesta perspectiva, é necessário, portanto, valorizar os mitos universais e os sinais comuns à Maçonaria, dos quais os Rituais são portadores. As lembranças das "Constituições de Anderson de 1723" – que Arthur Groussier contribuirá sobremaneira para redescobrir – e a filiação andersoniana a que reivindica, dão legitimidade à Obediência e ao seu Rito, que não é outro senão o Rito original da Maçonaria especulativa, “naturalizado” no continente. A reabilitação de elementos tradicionais torna-se obviamente uma forma de compromisso.

Por instigação de Groussier, o Conselho da Ordem decide por proceder a uma revisão dos Rituais e atribui ao Supremo Conselho-Grande Colégio de Ritos, no âmbito das competências que lhe são claramente reconhecidas, a missão de apresentar sugestões. Este último lançou então uma vasta consulta aos Capítulos Escoceses (as Oficinas que trabalhavam no 18º Grau do REAA) e conscientemente elaborou, a partir dessas respostas, uma série de relatórios, grau a grau, que foram lidos nas assembleias do Grande Capítulo. Este trabalho constituiu uma excelente base de reflexão e proposta de continuação, é esse processo que levou à adoção dos novos Rituais impressos em 1938, primeira versão do que mais tarde seria chamado de “Rito Groussier”.

Em sua determinação silenciosa de reformar, Arthur Groussier se beneficiou de um apoio decisivo, como o de Armand Bédarride[11], autor de propostas notáveis em 1931, 1932 e 1933, e o de Camille Savoire[12], Grande Comandante do Grande Colégio de Ritos (GCR) e praticante do Rito Escocês Retificado (RER).

Apoiando-se precisamente nas contribuições dos Capítulos, unanimemente críticos do Ritual de 1922 e, parcialmente, daquele de 1887, o Ilustríssimo Irmão André Bédarride apresenta, em setembro de 1931, um relatório longo e bem construído que começa com uma observação severa. Os Rituais são “defeituosos e insuficientemente iniciáticos”, as suas formas não são suficientemente “emotivas”, as explicações sobre as quatro etapas da vida têm “um carácter parasitário e artificial”. Em última análise, a única grande “inovação” que o Grande Colégio poderia considerar propor seria “um regresso às tradições puras”, mas “numa linguagem do nosso tempo”.

É especialmente no que diz respeito à iniciação que vale a pena destacar a sua impressionante série de propostas: exame preliminar claramente separado da recepção, “Gabinete de Reflexão tradicional e integral”, testamento menos “simplista”, cuidado especial a ser dado à Coluna da Harmonia, imponência necessária à cerimónia, reintrodução do cálice da amargura e, sobretudo, das provas físicas dos quatro elementos.

Este último ponto foi uma reivindicação quase que generalizada dos Capítulos, apresentada como essencial às “purificações”, por vezes apoiada por solicitações relativas a ruídos, “piso irregular”, necessidade de fazer um primeiro trabalho na pedra bruta, etc. Algumas das propostas mais ousadas – que particularmente defendiam a reintrodução do “Pavimento Mosaico” e do “Tapete da Loja” – vieram do Capítulo “L'Encyclopédique”, de Toulouse, que, sob a influência do Irmão Laffont, defendia, em particular, o estabelecimento sistemático de uma “Cadeia de União” quando do encerramento dos trabalhos.

Finalmente, avançando num campo onde terá menos seguidores, Armand Bédarride, a título mais pessoal, defende uma reintrodução do tetragrama no Triângulo e, mais ou menos declarado, defendeu ainda a ideia de que, com o tempo, houvesse o regresso da invocação do Grande Arquiteto do Universo, “simbolismo básico e culminante da nossa Arte” como um meio de permitir “o restabelecimento da Unidade Maçônica em toda a superfície do globo”.

Em sua monumental apresentação, o relator analisou as causas dos desvios criticados, que ele rastreou até bem antes de 1922 e 1907, e afirma que é imprescindível uma reforma profunda, mantendo a “estrutura tradicional” e “desenvolvendo o conteúdo do trabalho iniciático”, ao mesmo tempo em que propôs um ensino de “elevado valor moral” numa “linguagem moderna”. Desejando privilegiar o “trabalho interno de meditação”, explica ele, e para finalizar, com toques bem wirthianos[13], que “não existe uma verdadeira Arte Real até que todos tenham trabalhado sua pedra bruta” (...) e que, “se (...) os Mestres podem mostrar o caminho, cada Aprendiz deve fazer a sua própria jornada”.

O principal foi feito, mas faltou reexaminar de perto o destino reservado aos Graus de Companheiro (que permanecerá subdimensionado) e o de Mestre, que precisava ser cuidadosamente reexaminado. Esta obra terá uma breve posteridade, pois infelizmente uma nova guerra estava se aproximando.

A leitura desse relatório (que foi seguida de prolongados aplausos), cujas conclusões foram adotadas, levou à preparação de um projeto a ser enviado ao Conselho da Ordem. Como resultado de várias oposições (a uma revisão ou, em princípio, aos “Altos Graus”) e dados os inevitáveis atrasos, oposições que, além disso, se sobrepuseram aos períodos (de 1934 a 1936) em que Arthur Groussier não era Grão-Mestre, as coisas levariam mais alguns anos para se chegar a uma conclusão.

Nesse ínterim, restou interessar-se pelos Graus de Companheiro e de Mestre. Em 1932, o mesmo Irmão Bédarride, que recebeu contribuições de um terço das poucas centenas de Capítulos Escoceses existentes, tratou do Grau de Companheiro em um Grande Capítulo presidido por Camille Savoire (também um dignitário da RER)[14]. Depois de apresentar uma explicação histórica inteligente que leva os ouvintes de volta às origens da instituição, ele apresenta o mesmo tipo de considerações, críticas (especialmente contra os “lotes[15] e a falta de solenidade) e propostas. A ideia de que um “trabalho experimental” deveria preceder o “aumento de salário” também foi então apresentada.

Depois de comparar o seu conteúdo em diferentes momentos e criticar a introdução dos cartuchos[16], ele se propõe a restaurar um significado simbólico para as “Cinco Viagens”, vinculando-as concretamente a uma origem operacional e à presença de uma ferramenta. Ele também busca aprimorar a apresentação da “Letra G” e da “Estrela Flamejante” (ou “Estrela Polar”). Apresentando várias propostas, ele também faz alusão à possível introdução de um ramo de oliveira, de grãos ou de espigas de trigo no Ritual. Por fim, ele defende a “organização efetiva do Grau" por meio da instituição de paramentos específicos, ao mesmo tempo em que reconhece, com lucidez, a dificuldade quanto a se querer restituir a dimensão tradicional do Grau de Companheiro como outrora fora.

Finalmente, em 1933, Armand Bédarride apresentou seu relatório ao Grande Capítulo, dessa vez referente ao Grau de Mestre. O Ritual de 1922 restabeleceu a cena do assassinato de Hiram, que as versões anteriores haviam mantido apenas na forma de uma narrativa. Isso não é uma questão de arrependimento, mas de realismo: a maioria das Lojas havia mantido essa cena. Além disso, o drama hirâmico, “pivô fundamental da Maçonaria em todos os países”, como ele ressalta, é praticamente intocável. Seus ensinamentos são baseados em um princípio de morte e ressurreição e em uma moralidade elementar que é fácil e adaptável. Em vez disso, o que é criticado é a forma pueril, a "banalidade das explicações” e a falta de expressividade na representação do drama. As melhorias propostas são, portanto, mais pontuais: entrar no templo de costas, melhor decoro, trajes e música apropriados, maior envolvimento físico do receptor, presença física da acácia. Finalmente, também foi mencionada a necessidade de exigir "trabalhos preparatórios" e de convocar reuniões regulares da “Câmara do Meio”.[17]

Fruto dos esforços de vários Irmãos, Comissões e Lojas, mas também refletindo a evolução de um homem que logo foi levado a compreender seu século e os interesses do Grande Oriente da França, o novo Ritual foi impresso em 31 de dezembro de 1938.

Arthur Groussier, que participava das reuniões do Grande Conselho Diretor de Ritos (GCDR) e das Assembleias Capitulares, acompanhou de perto essas reflexões e estava atento às implicações práticas que delas resultariam. A maioria das observações feitas teve efeito duradouro. No final desse período de maturação, sob o impulso de sua grande maestria, o Conselho da Ordem finalmente adotou o Ritual revisado em 3 de abril de 1938, sendo concluído e impresso em 31 de dezembro de 1938.

As mudanças de tom e de direção são claras: as tradicionais marcas de reconhecimento mútuo, verificação de cobertura, tempo e idade são restaurados na abertura, assim como as repetições de fórmulas de um malhete a outro. Os comentários inseridos anteriormente foram removidos. A ritualística agora é estruturada de acordo com sequências mais bem identificadas e fórmulas bem marcadas e inspiradas na tradição (por exemplo, aquela que indica que “comentários só poderiam ser feitos sobre a redação e não sobre o mérito dos assuntos tratados” no momento da leitura do traçado relativo aos trabalhos de Sessões anteriores). E isso até o final dos trabalhos, anunciado pelas últimas intervenções de interesse particular ou geral, pela circulação dos troncos e pelo próprio encerramento dos trabalhos.

Esse Ritual de 1938, apresentado em um elegante livreto de 150 páginas, abrange todos os aspectos da vida maçônica para o Grau de Aprendiz, inclusive como executar a “Bateria do Grau” e as cerimônias fúnebres.

Outro fato novo e muito importante: o novo Ritual inclui um texto notável da “Cadeia de União” (que se incentiva a formar em cada Sessão). Diz-se que foi escrito pelo próprio Arthur Groussier; de qualquer forma, ele pesou e considerou cada palavra. O estilo clássico, admirável por sua clareza e harmonia, imprime inconscientemente uma métrica “salmodiana”, muitas vezes baseada em trissílabos (“que nossos corações - se aproximem - ao mesmo tempo - que nossas mãos...”). Poético e inspirador, hodiernamente ainda em uso em nossos Rituais.

Quanto às admissões, elas são feitas com base em um processo[18] e ante audiência de investigações[19]. O Ritual deseja ver separado (como um teste preliminar) o “interrogatório” (com os olhos vendados), que ocorre após essa primeira votação, da iniciação, que seria adiada para um terceiro momento. Acaso o candidato não tenha tido sucesso.

O Ritual de 1938 revela-se rico em belas fórmulas, mas ainda carregado de digressões.

Por fim, buscando reintroduzir o maior número possível de elementos “tradicionais” sem maiores constrangimentos (alguns dos quais são, de fato, reinterpretações ou inovações voltadas para o estilo antigo), ainda mantendo ao tempo alguns dos textos “positivistas” (por exemplo, aqueles relacionados às "fases da vida"), o Ritual de 1938 multiplica o número de opções facultativas e comentários históricos sugestivos.

São assim apresentados, após uma passagem por um “Gabinete de Reflexão” mais consistente e a apresentação facultativa de viagens que incluem “purificações” e “provas”, lembretes relativos à entrega dos metais ou à preparação do vestuário no Século XVIII, à reintrodução do cálice de amargura e às "Constituições de Anderson" de 1723. Segue-se então à recepção definitiva, que começa com uma promessa e a “Prestação da Obrigação”, que será posteriormente assinada. Estas últimas etapas abrem-se para a recepção da Luz, seguida da cremação do testamento e em seguida são concluídas, após a entrega dos paramentos e uma Instrução, de uma bateria de reconhecimento, seguida de uma “Peça de Arquitetura” do Irmão Orador.

Nos deparamos perante um Ritual bem estruturado, mas ainda indeciso, porque não se quer e nem se pode impor ou apressar. Rico de belas fórmulas (“É um homem livre e de bons costumes, que pede para ser admitido entre nós”... “Homem, para se tornar um receptáculo...”) e ainda assim carregado de digressões que não foram expurgadas . Além disso, poucas Lojas o tinham à disposição às vésperas da Segunda Guerra Mundial, no entanto, para se habituarem ao mesmo, ele é rapidamente reimpresso em 1946, de forma idêntica, numa edição mais sóbria e compacta.

Terminada a guerra, Groussier retomou as suas ferramentas e, apesar da idade e do cansaço, com a ajuda desta vez dos Irmãos Corneloup, Chevallier e Viaud, adotaram em 1955 uma última versão do Ritual ao qual, naturalmente, dar-se-á o seu nome: “Ritual Groussier”.

O Ritual de 1938-1946 proporcionou uma reorientação decisiva, mas em muitos aspectos permaneceu no meio do caminho. No entanto, a dinâmica de antes da guerra retornou após a libertação. As observações eram as mesmas e as expectativas dos jovens Irmãos tornam-se mais claras. A fusão com a GLDF falhou, e o contexto internacional pressionava mais do que nunca para apresentar um GODF respeitador dos costumes tradicionais. O GCDR , que Arthur Groussier ignora até ao fim, vê chegar homens do temperamento e da inteligência de Joannis Corneloup e Francis Viaud. Agora que as primeiras bases da reconstrução da Obediência foram lançadas, encontram-se presentes todos os pressupostos para novo envolvimento e se colocar mãos à obra no processo que já fora iniciado.

 


Fig. 6 - Joanis Corneloup[20]


Fig. 7 - Francis Viaud[21]


A nova versão do Rito "Groussier" (uma obra coletiva, mas para a qual Groussier contribuiu com os seus próprios desejos e arbitragens até ao fim), foi finalizada em 1953 pelo Grão-Mestre Paul Chevallier e adotada em 1954 pelo Conselho da Ordem (com Pierre Isnard como relator). Arthur Groussier, cego e enfraquecido, mas intelectualmente lúcido, teria considerado que uma parte essencial da sua obra viveria depois dele neste Rito epônimo.


As alterações introduzidas em 1955 inspiraram-se, logicamente, no seu pensamento, notadamente no que diz respeito às "Constituições de Anderson", e tiveram por base as suas posições anteriores à guerra e o seu desejo, cada vez mais claro, no último quarto da sua vida, de uma relativa espiritualização das práticas. No entanto, elas também incluem muitas outras considerações. Entre elas, a vontade de dar um lugar de destaque ao artigo 1º da Constituição e de dar mais peso ao “Encerramento dos Trabalhos”.

Neste último caso, foi retomada uma passagem do texto de 1922, ainda em uso corrente que, ao se constatar que a pedra bruta mal havia sido cortada e é áspera, o tempo de repouso ainda não havia chegado, apela-se então à difusão das verdades adquiridas fazendo com que a Ordem fosse amada pelo exemplo de nossas qualidades.

A versão de 1955 procurou também dar maior ênfase às provas de iniciação, notadamente pela introdução de novas provas e uma recepção sob a forma de uma consagração[22].Por fim, a Abertura dos Trabalhos apresentava agora uma Evocação dos Princípios Fundamentais do Grande Oriente de França, ainda em vigor, que se inspirava nas "Constituições de Anderson" e na sua vocação de fundar o “Centro de União”.

Com o seu simbolismo, as suas evocações de Anderson e da Constituição do GODF, as suas provas, o seu lirismo humanista, o Ritual de 1955 continua a ser uma leitura fácil e atrativo, adequado às aspirações dos jovens iniciados.

No que diz respeito às provas, o objetivo era torná-las mais leves e mais claras, suprimindo os dispositivos opcionais, dando mais solenidade e, ao mesmo tempo, insistindo em “novos” aspectos tradicionais: “reflexões finais” mais concisas, momento de elevação do espírito rumo ao “Ideal de Perfeição”, primeira “Obrigação”, viagens e purificações acompanhadas de efeitos sonoros e obstáculos.

O exame de sangue, a imposição da marca indelével e a cerimônia das “pequenas luzes e do perjúrio” antes da Obrigação, também estão presentes, mas tão somente a título facultativo. Estas últimas práticas quase nunca foram utilizadas, exceto, paradoxalmente, noutros Ritos. De notar ainda a importância dada à apresentação de “Objetos Simbólicos”: o Esquadro, o Compasso, a Espada e o Livro, este último numa tentativa de conseguir uma certa compatibilidade com o “Volume da Lei Sagrada” em uso noutros locais (a Bíblia e o Corão são referidos como obras dos Sábios).

Finalmente, após uma consagração em que o reci´piendário é claramente recebido e constituído pela espada, segue-se à entrega dos paramentos e a consumação do testamento. Após a instrução, que permite verificar se as palavras, sinais e toques retornaram “justos e perfeitos”, e a bateria de reconhecimento, a cerimônia termina com o discurso de boas-vindas do Orador.

Os problemas surgem nos mesmos termos em relação aos outros dois Graus, mas em um modo mais atenuado e em termos diferentes. O Segundo Grau, pouco retocado, permanecerá como inacabado - ou hesitante sobre sua própria natureza -, com seus cartuchos, sua ausência de texto ou ritmo fortes, capazes de conferir-lhe o status de “Companheiro de Pleno Exercício”.

O nome de “Rito Groussier” impôs-se como óbvio, em homenagem àquele cuja inteligência captou a natureza profunda dos Maçons do seu tempo e cuja estatura e vontade desempenharam um papel tão decisivo.

Quanto ao Grau de Mestre, que se manteve mais estável em seu conteúdo desde o Século XVIII, são as Lojas, de então e de hoje, que lhe conferem maior ou menor relevo, muitas vezes de acordo com hábitos transmitidos desde tempos muito antigos. No entanto, o apego que despertou diminuiu gradualmente ao longo de um século. Muitas das pistas abertas em 1932 e 1933 não serão exploradas e esses Graus não darão origem práticas regulares recomendadas pelos relatórios anteriores à guerra.

Desde então, como prolongamento do movimento iniciado, na continuidade de uma tradição que sempre abraçou a diversidade, surgiram outros ramos: 1955 é também a data de criação Loja “Du Devoir et de la Raison[23] que reivindica a si o Rito praticado no Século XVIII. Posteriormente, outros também quiseram “redescobrir” Graus após o Grau de Mestre. Em última análise, trata-se da continuação do mesmo movimento.

Ao deixar o seu nome a uma formatação do Rito que se revelou tão bem-sucedida – 85% das “Lojas francesas” no GODF o praticam hoje – e que, sem dúvida, o terá salvo, Arthur Groussier não usurpou o que não reivindicou. Naturalmente, após sua morte, deixou a assinatura do artesão[24]. A virada ocorrida em duas fases, em 1938 e em 1955, resultante de causas diversas, é uma obra coletiva sob a autoridade de um "Mestre de Obras". Mais tarde, gradualmente, o nome de “Rito Groussier” prevalecerá, como prova, em homenagem àquele cuja inteligência captou a sua natureza profunda, cuja estatura e vontade desempenharam um papel tão decisivo.



Fonte:
Revista "La Chaiêne d'union" - Nº 38 (1/2006) - Pág.s 46/59, de autoria do Irmão Ludovic Marcos, sob o título original em francês: "Voici pourquoi le Rite Française porte aujourd'hui son nom".


 

 


NOTAS:
[*] - Tradução  contempla notas, referências e comentários pessoais do tradutor.

 

[1] - Arthur Groussier (1863 - 1957): engenheiro, sindicalista, político socialista e comunista e Maçom. Ingressa na "École Nationale Supérieure d'Arts et Métiers" em 1878, onde se diploma em Engenharia Mecânica. Como sindicalista socialista foi Secretário-Geral (1890-1893) da "Fédération des Travailleurs de la Métallurgie", da militância sindical à militância socialista, ingressa na "Fédération des Travailleurs Socialistes de France" e, desta, à militância política, sendo eleito deputado pelo 10º Arrondissement de Paris pelo "Parti Ouvrier Socialiste Révolutionnaire - POSR", como deputado obteve vários mandatos na Assembleia Nacional Francesa, lá permanecendo por 28 anos. Como militante comunista participou da criação da "l'Alliance Communiste Révolutionnaire - ACR", paralelamente participa da criação do "Parti Socialiste Révolutionnaire - PSR". Iniciado em 1885 na Loja "L'Émancipation" do GODF, mais tarde filiou-se ainda à Loja "Bienfaisance et Progrés". Eleito em 1907 para o Conselho da Ordem do GODF, praticamente não deixou este Corpo Maçônico até a Segunda Guerra Mundial. Abandonando a vida política em 1925, torna-se Presidente do Conselho da Ordem do GODF. Em 7 de agosto de 1940, como Grão-Mestre do GODF, em carta dirigida ao "Marechal Pétain" (Chefe do Estado Francês), reconhece a nova autoridade de Philippe Pétain. Com a promulgação de uma lei que proibia as sociedades secretas no "Governo de Vichy" tem o seu mandato interrompido em 1940. Tendo o seu mandato novamente renovado no período de 1944-1945, embora quase cego e então com 82 anos, permaneceu ativo na Ordem e por ela trabalhando até o seu falecimento. Foi graças ao Irmão Groussier que, no período entre guerras, encetou o regresso do Rito Francês às suas origens e fontes simbólicas. O texto elaborado sob a direção de Arthur Groussier adotado em 1938, e depois de forma derradeira em 1955, marcou o retorno do simbolismo ao Ritual de referência do Grande Oriente de França sob o nome de "Rito Francês", conhecido por uns com o epônimo de "Rito Groussier" (ou versão Groussier, como assim alguns tantos outros assim o consideram). "C'est la vie": o que há de se fazer?

[2] - 
No sentido socrático: “parteiro de ideias”, ao estimular a discussão e a renovação da prática ritualística do Rito Francês, notadamente a partir de sua Obediência (o GODF).

[3] - Melhor dizendo: adulteradas.

[4] - Lucien Murat (1803-1878): Ou "Príncipe Lucien". Foi nomeado Grão-Mestre do Grande Oriente de França (1852-1861) por ação política do seu primo, o Imperador Napoleão III. Ele foi o responsável pela compra da sede do GODF na Rua Cadet nº 16, em Paris, sede inaugurada em 30 de junho de 1830, onde funcionando, desde então.

[5] - Louis Amiable (1837-1897): Advogado formado pela Faculdade de Direito de Paris, recebeu o doutorado em Direito em 1861. Conselheiro do Tribunal de Recurso de Aix-en-Provence em 1892. Ao se estabelecer em Constantinopla em 1864 fundou a Ordem dos Advogados de Constantinopla, a presidindo de 1872 a 1874. Foi prefeito do 5º Arrodissement de Paris, escritor e Maçom francês, foi membro da Loja “Isis Montyon”, sendo autor de uma controversa monografia sobre da Loja “Neuf Soeurs” (1897), que foi duramente criticada. Em1886, implementou uma reforma do Rito Francês numa versão adogmática e positivista. Foi membro do Grande Colégio de Ritos e do Conselho da Ordem do Grande Oriente de França. Colaborou com o "Journal des Économistes" (jornal ecômico francês dos Séculos XIX e XX que defendia ideias liberais e de livre comércio); "Le Progrés" (jornal regional da cidade Lyon fundado em 1859 de propriedade do Banco "Crédit Mutuel". Na época era um períodico de oposição independente e republicano, classificado como "republicano radical"); "La République Française" (jornal diário francês fundado em 1871 de Léon Gambetta, estadista e uma das figuras políticas mais importantes dos primeiros anos da "Terceira República Francesa"); e o "La Justice" (fundado pelo republicano radical Georges Clemenceau).

[6] - Jean-Baptiste Antoine Blatin (1841-1911): 
Professor de medicina, vice-prefeito de Clermont-Ferrand, membro da Loja “Les Enfants de Gergovie”, foi inicia em 1841 aos 23 anos na Loja "L'Avenir", enquanto era estudante de medicina foi fei Companheiro e Mestre. Foi presidente do Conselho da Ordem do Grande Oriente da França em 1894, Soberano Grande Comandante de Grande Colégio de Ritos em 1901. Foi ferrenho defensor do respeito pelos Rituais e o pensador de um simbolismo secular e evolutivo, centrado nos valores da moralidade, da justiça e da solidariedade, respondendo, assim, às necessidades espirituais de uma geração maçônica desligadas das religiões, e contribuindo para a compreensão fraterna entre os Maçons, apesar de suas diferenças ideológicas e/ou religiosas. Em 1907 capitaneou a proposta da Loja "La Franche Amitié" a fim de que somentes os Mestres pudessem apresentar candidatos e que os Aprendizes não mais pudessem votar nas candidaturas, foi o "retorno às fertéis tradições da Ordem". Em 1909 recomendou-se a obirgatoriedade do uso do avental nos paramentos. A ação mais frenquentemente atribuída a Blatin seria o despertar, na França, do Regime Escocês Retificado. Apoiou a iniciativa e adaptou a invocação ao "Grande Arquiteto do Universo - GADU", para torná-lo compatível com o princípio da liberdade abosoluta de consciência, proposta esta a lida por Edouarde de Ribeaucourt perante os deputados no início do Convento de 1910.

[7] - Câmara de Reflexão.

[8] - Cartel des Gauches” (Cartel da Esquerda): coligação de partidos de esquerda que governou a França no período de 1924 a 1926 e de 1932 a 1933), formada pelo Partido Radical Socialista (Seção Socialista Francesa da Internacional do Trabalhadores - SFIO), e outras organizações e partidos socialistas menores. O “Cartel” organizou uma rede de comitês em todo o país e passou a publicar um jornal diário (“Le Quotidien”) e um semanário (“Le Progrès Civique”). Muitas Lojas e Irmãos se engajaram nessa aventura da esquerda francesa à época, o que levou posteriormente a Maçonaria Francesa a deixar de tomar partido nas eleições após o fracasso do "Cartel de Gauches", principalmente pelas desventuras na gestão pública e aumento da carga tributária a fim de fazer face aos gastos para se manter a máquina pública. Este fracassado alinhamento da Maçonaria Francesa à coligação dos partidos de esquerda, principalmente no período de 1924-1926, levou nossos Irmãos franceses a nutrirem simpatias à coligação da "Frente Popular" (de direita).

[9] - Basic Principles for Grand Lodge Recognition” (“Princípios Básicos para o Reconhecimento de Grandes Lojas”): princípios básicos estabelecidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra – GLUI, datado de 04 de setembro de 1929, sob os quais a GLUI reconheceria desde então as Obediências Maçônicas de outras jurisdições (outros países).

[10] - 
Pesquisa sobre as possibilidades e os meios de aproximar as diversas potências maçônicas do mundo”.

[11] - 
Armand Bédarride (1864-1935): advogado, iniciado na Loja “Les Amis Choisis” em 29/04/1891. Foi autor de inúmeras obras e artigos maçônicos, dentre os quais, alguns traduzidos aqui no Brasil. Cito: “Desbastando a Pedra Bruta” e “Régua e Compasso”.

[12] - 
Camille Savoire (1869-1951): médico, ex-membro da loja “La Réforme” (Grande Loja Simbólica Escocesa), então filiado ao Grande Oriente da França em 1883. Elevado na Suíça, em 1910, ao último Grau do RER (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa – CBCS). Grande Comendador do Grande Colégio de Ritos em 1923, suas relações com o GODF se deterioraram e ele fundou o Grão Priorado dos Gauleses em 1935. Como médico, teve notável participação e engajamento no combate à tuberculose.

[13] - Alusão a Oswald Wirth (1860-1943), funcionário público, ocultista, artista e autor de diversas obras sobre simbolismo, esoterismo, ocultismo, hermetismo e tarot (dentre outros), iniciado na Maçonaria em 28/01/1884 na Loja “Les Amis Triomphants”, filiada ao GODF.

[14] - Sobre o nascimento memorável desse Rito e das formações e conventos que lhe deram origem, sugerimos consultar Yves Hivert-Messeca em “l'Encyclopédie de la Franc-Maçonnerie”, La Pochothèque, Paris, 2000. Cerca de cinquenta lojas do Grande Oriente da França praticam esse Rito (a dados de 2021).

[15] - Iniciações coletivas e de vários candidatos ao mesmo tempo.

[16] - Ornamento de Loja em forma de cartão, quadros, cartelas. Como como aqueles quadros em formato de triângulo, providos de luz interna, com as inscrições previstas no Ritual do Grau 2, que são fixados às mesas (cf. previsão do Ritual do Grau de Companheiro do GOB, versão 2009).

[17] - Título dado à Loja de Mestre na Moderna Maçonaria especulativa. Este temo passou a ser adotado após o surgimento do Grau de Mestre em 1724 que, na sequência, foi sacramentado pela “Segunda Constituição de Anderson” (1728), relativa à “Loja dos Modernos” de 1717 (Primeira Grande Loja de Londres).

[18] - Processo de Admissão (ou processamento de admissão).

[19] - Sindicâncias.

[20] - Joanis Corneloup (1888 - 1978): engenheiro brilhante e autor de livros maçônicos, registrou várias patentes e invenções na área de aeronáutica e metalurgia. Foi membro da Loja “Les Étudiants” do GODF. Ardoroso defensor da unidade maçônica francesa, foi membro do Grande Colégio de Ritos, do qual foi Grande Comendador de 1958-1962.

[21] - Francis Viaud (1899 - 1985): formado pela “École Centrale des Arts et Manufactures”, em 1920, encerrou a carreira como engenheiro geral e diretor dos pesos e medidas do Ministério da Indústria da França. Foi Grão-Mestre do Grande Oriente de França, de 1945 a 1956. Foi sob sua gestão, como então Grão Mestre do GODF, que se decidiu restaurar o Rito Francês no GODF em sua versão original e, para tanto, foi inclusive criada a Loja “Del Devoir et de la Raison Devoir”.

[22] - Termo empregado no sentido de legitimar, ratificar, sancionar, reconhecer, validar. Forma pela qual o recipiendário é recebido e constituído de ora em diante Aprendiz Maçom e membro ativo e regular de uma Loja Simbólica. Por sinal, o procedimento adotado é efetuado de forma análoga e remete às antigas tradições ante as quais um homem era feito (ou armado) cavaleiro.

[23] - Loja fundada pelo Irmão René Guilly no GODF, que seguida de uma série de estudos e trabalhos dentro e fora da própria Obediência resultaram na criação do “Rite Français Traditionel” (Rito Francês Tradicional), Rito este praticado na “Grande Loge Traditionnelle et Symbolique Opéra – GLSO”. E, como alega a GLSO, o RFT estaria muito próximo daquele que foi codificado nos anos 1782-1786 pela Comissão presidida por Alexandre-Louis Roëttiers de Montaleau. Alegam ainda que este Rito seria o mais antigo da França, pois fora concebido durante a criação das primeiras Lojas maçônicas francesas na década de 1720, seria, portanto, a tradução do Rito praticado pelas Lojas de Londres.

[1] Como se diz, um “carregador de piano”.